domingo, 25 de setembro de 2011

Voo para longe, dentro de mim



Voo para longe ao encontro de mim mesmo
Dentro de mim começo quem sabe se há um fim
Alguém de fora que foi o que um dia eu quis
Oferto o que já não tenho e perco o que não me pertence
Para que assim renascendo turbilhão exasperante
Cruze metafisicamente as paralelas vias atemporais
Daquilo que permanente por enquanto está
E do que estranhamente nunca houve antes
Aquilo que  nunca antes tão pouco ouvi
Estações temporais sensações convenções
A toda monotonia fuga do convencional
Sanções diretrizes voo vou em busca de raízes
O limítrofe racional auto destruído é libertador
Sou o que não sei um livro um sonho uma janela aberta
Infinidade divindade liberdade insanidade
Recorro à incoerência corrompo a impotência
De tudo o que ilusoriamente transgride minha ciência
Assumo arrumo sumo ressurjo presumo
Voo e afundo e aprumo meu descaminho
Incansável sigo bravamente embora ainda veja
Sigo colhendo impressões e solitário é o caminho
Contraste doloroso e gritante na absurda multidão
Permanecer ainda que presente um ilustre desconhecido
É reconhecer-me - mea culpa - ausente no meu próprio ninho.

Renata Rothstein

domingo, 18 de setembro de 2011

Há Vida

Tão ao largo que me desencontrei
No inverso do inverno de um sonho
Conformada me desarmei desafiadora quando amei
Encontrando nas sinas sonoras da manhã
A ascensão misteriosa átrio-valor-terra
Não sei se a um pensamento vassalo ou rei
A resposta cala e a pergunta se encerra
Quando as condições foram quebradas
Foi ao chão o fim da era começada
Troquei o fictício pelo igual real desilusão
Por onde escapa um esteio de realidade
Partindo repetidamente repentinamente
Sem aviso de chegada ou partida?
Pela vida sigo entre dogmas e racionalidades
O inverso desorientado do tudo tornado tarde
Enlouquecendo furiosamente cedo
Intermináveis instantes
Clareando obscurecidas alternantes fontes delirantes
Elos deflagrantes sinais sinos silenciantes
Exito. Êxito fragrante. Flagrante beligerante
Do alto a salvação, mas, se todos seguros estão
Para quem trabalha - duro - a ameaça da condenação?
Condena-se a submissa inadiável temerosa condição
Perifericamente transpõe-se a vitória
Ensaiadas detalhadamente batalhas tornam-se pantomimas
Mas onde estará, oculto, posto o indócil substituto
Segmento purulento ardiloso e lento em face de tudo que foi
Exaustivamente exposto?
Exponho meliantes sinapses antecessoras da incapacidade
Cidades astrais constrangedoramente visíveis carregam de si
O que sobra da pouca rouca louca, portanto, sanidade
Captam em meio ao medo o medíocre luxo e eu
Lustro a luxúria lunática de lodo
Imortais rojões emperdenidos sabotam anseios
Absorta absorvo tão somente absolvo a absurda antítese
Abstraio não me atrai o traiçoeiro trajeto que vai
E se esvai, revivo, em tudo
Sentindo na pele a pequena fração de eu
Necessário é jogar-se ritualisticamente
Sem crer na divinatória oratória
Daqueles que comandam a lida
Necessário apenas é seguir
Não importa a direção que nunca é escolhida
É necessário apenas seguir
E perseguindo
Viver a vida
Enquanto ainda
Há vida


Renata Rothstein

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Antes que seja Tarde

Tarde triste
Silenciosa
Fim de inverno
Eu
Silencio
Tristeza arde
O fim do inferno
Quando?
Esqueça
Não meça o dano
Dane-se o engano
A tantos quantos conto
Imagino
Há tantos tontos
Destoam nas impuras
Equivocadas linhas
Do destino
Fim de inverno
Silêncio
Tristemente tarde
Ar de você
O fim do inferno
Lutas no breu
Batalhas feridas vitórias
Vida
Finja surpresa
Tanto quanto eu
Danos e enganos
Impurezas torturantes
Tornam brilhante
Corrigem o já inequívoco
Destino meu
Eu sigo prossigo
Sempre sozinho
A tarde parte
Eu parto
Antes que seja
Muito tarde


Renata Rothstein


Observo a Vida pela Janela



Observo a vida pela janela
Espreito por uma fresta
Sempre aquém da tela
Da vida
Há vida, vinda
Através da janela
Seguindo cada vez
Mais bela
Só pra me fazer lembrar
O quanto um dia
Já fui feliz
Simplesmente por ser parte
Dela
O dia que nunca termina
Determina enfaticamente
Reverberando querência
Continuamente aprendiz
Ser tudo aquilo que sou
Feliz
Percepções delitos ações
Vivo
A agridoce constante escolha
Sempre pensando além
Mesmo aquém da janela
Se é que ainda continuo
Indignada fresta sigo sou
O que trago e o que entrego
Intrépido estupidamente
Por ela vislumbro
A janela
Um dia me acho atravessando
O portal que me afasta
De mim e me rendo e me reencontro
Indo finalmente ao encontro dela


Renata Rothstein

Sideralmente caminho

Sideralmente caminho tempo adentro
Há dentro de mim – felizmente- um não poder
Instrumentando definições argumentos aflições
Soluções afora ao transpor lumes ventanias

Vagando na ânsia da procura delirando melodias
Entregar o que não há tornado imediato sempre igual
Somente poeira e lembrança restos da fogueira espacial
O permanente descrente desconhece determinismos

Eu não almejo triunfos oriundos da orgia
Lunática impregnada do pensar tudo
Doce sensação muito nada e vaga de pertencer
Repudio ao tédio meu repúdio avança pelo dia

Meio dia da vida dilúvio desvanecido
Enraivecido no mistral arrefecido
Aqueço esqueço antevejo o desprezo
Despeço andarilho o mítico andarilho

Sonho afogo o fogo assopro o ilimitado jogo
Jogado afago no cântico o despedido encanto
Expurgado alardeia-se apenas a claridade ardente
Das psicoeventualidades cremadas no pôr do sol


Renata Rothstein