domingo, 24 de junho de 2012

Amazona Embriagada






Lua incandescente crescente presente 
Você ausente sempre tanto em mim
Como se pudesse ser o início um fim
E assim calçar minhas botas e partir
Sem rumo o rumo é não ter o por quê
Quando as histórias contadas forem
Nada do todo real será desmaterializado
E incrivelmente não fará diferença
Nenhuma e os pormenores latejando
Reivindicando qualquer não direito
Devendo ao direito de orientar uma luz
Flagelos de um caminho despedaçado
O meu mágico violão e seus milagres
Confidências desconexas ganham cor
Qualquer sentido e eu digo não me arrependo
Ou não ligo colhendo as esmolas da noite fria
Vazia a sala vazia a alma minha mala cheia de trapos
De aventuras e discursos e cidades e cantos
Encantos me encanto pelo souvenir tão vil
Pirotécnicas escolhas pilhadas esporadicamente
Somente o inútil grito sufocado na madrugada 
Mãos calejadas unhas quebradas cansaço e solidão
Traga-me uma árvore da vida farei uma escolha bonita
Vagando como hoje - eu sei- seguirei sem pedir ou esperar
Um perdão decrépito caído no descrédito
Sorrirei outra vez calçarei minhas meias direi outra vez
Minhas meias verdades a quem não merece sequer mentiras
Amazona gueixa princesa embriaguez bailarina guerreira
Talvez eu despreze ou quem sabe possua – avidamente
Descarrego meu nexo revoluciono as conexões
Atravesso a estrábica miragem sempre em frente
Fingindo esquecer o destino e vivendo o instante
Faço do baluarte um  nada e ainda assim, o bastante
O tudo, por um instante.


Renata Rothstein








segunda-feira, 4 de junho de 2012

Passos invisíveis



Passos invisíveis na manhã sem sol
E é o gosto das guerras por lá vencidas
Nos vãos das batalhas há muito perdidas
Caminhos caminhas caminho e é só o agora
Nada mais no lá fora do meu viver denuncia
É hora de incendiar as hipócritas armadilhas
Surrealizo as pegadas pego carona no nada
Antevejo os portões e as orgias ridículas ideologias
Raptos de pensamento capengas cérebros de cimento
Só pó e somente o pó indolentes blasfêmias
No conluio pérfidas almas gêmeas pensam tramar
Todos os seus muito poucos obsoletos pactos
Ricocheteiam os dardos dados sempre falíveis
E já que é só o agora eu caminho no indisfarçavel
Invisível...caminho caminhas pelos caminhos...
Não carregue tanto peso tanto pseudo sofrimento
Abandone em algum canto seu cérebro de cimento
E assim, siga perambulando indignidades
Sorrateiras desoportunidades abrandarão o dia
Eu permaneço invisível passo vivendo
Cada vez mais leve ignoro o rapto do dia
Suma logo pois na suma visibilidade
E leve apenas como lembrança
Tua alma vazia.



Renata Rothstein

Despenhadeiros



Proximidades são tão somente despenhadeiros
Quando o desespero assola implora seu antiapelo
Trafego impiedosamente cascalhos de luar
Vacilo resvalo vago envergo minhas vastidões
Qual areia esvaindo-se no tempo contemplo
Chãos demolidos escolhidos indignados calados
Devaneios semeio na torturante luz do dia
Riem-se de mim meus não próprios "eus"
E supero suporto serena sequelas e solidão
E mesmo sem alcançar o que será - outra vez
Traço meus palmos debocho dos meus planos
Os enganos tão enganadores que dissolvem-se
Na lágrima ensaiada e explosiva que furtivamente
Insiste em escandalosamente furtar-se à testenhunhar
Calo e no calabouço da alma celebro a idílica liberdade
Ventanias cálidas nos desfiladeiros entoam canções
Despedem-se qual sol ao cair da tarde os despenhadeiros
Entardecendo aproximam-se afoitos os mesmos antigos sonhos
Apelo espero encerro ávida estranhas alucinações
Derramo no cálice da vida a vida que mostrar-se-á
Quando for embora outra vez - quem sabe de vez
A torturante náufraga em nós a noite prometida
Sibilante sedutora serena e selvagem noite
Plena e escura, que, estranhamente, clareia e traz a cura
À minha eterna sobrevivente despudorada procura.


Renata Rothstein