domingo, 19 de fevereiro de 2012

Deslize devagar...

Deslize devagar teus lábios doces e quentes
E quentes e tão querentes de mim quanto sou
De ti na vontade de arder na volúpia e somente ser
Sou tua tão nua quanto esta cheia lua cúmplice testemunha
Gemer no apelo mais louco vivo viciante e derradeiro
Sentindo em mim o teu hálito tão quente e doce e sensual
Corpo delirantamente febril cobrando inclemente
Em mim tão meu tão seu tão nossos corpos simplesmente
E os teus lábios tão quentes que derretem minha pele
Impelem ao delírio do qual não quero nunca escapar
E cante uma bela canção de amor faça comigo o mais
Lindo e definitivo Amor - faça - e eu que toda me doo
Dou a ti o meu amor sou o teu amor seja em mim
Teu endereço não tenha pressa esqueça eu esqueço
E avanço no tempo e me perco no espaço no teu braço
O laço mais perfeito teu corpo meu delicioso algoz
Infinitos criados no intenso aflito desesperado abraço
Simplesmente sou e intensamente sendo toda te sinto
Tão inteiramente dentro permanente arde em mim
Suando histórias contadas vividas antes de existir
Sopre em meu coração o teu hálito quente e doce
Rasgue minha pele despiste rumores agite eu coro
E quero e peço exijo sem pudores responda aos meus anseios
E me dê prazeres e me encha de dores de muitas cores
Sou então sua rainha e sendo rainha sou teu mais caro
Objeto faço de ti o meu cetro meu homem certo
Seja sempre e totalmente meu responda rápido venha
Ao primeiro chamado meu avance meu homem rei e senhor
Te adoro te amo te reconheço pelo cheiro te chamo
Te reconheço pelo zelo saboreio e clamo tua boca
Selvagem e doce me faça mulher me faça querer me faça
Ter a força suave que dá e recebe e suga e serpenteia
E incessantemente busca urge te reencontrar
Outra vez nos teus braços me perder e para sempre
Nos teus braços me fazer mulher e neles acordar
Para outra vez infinitamente conhecer o prazer
E outra vez e outra vez...
Inteiramente te amar.

Renata Rothstein

Revolta

Saudade repúdio dó asco indignação
Até quando arrastar-se-ão os pérfidos
Delirantes tarefeiros da desova do mal
Objetos abjetos objetivos traçados
Em mal traçados desastrados planos
Nas quermesses fantasmagóricas alegorias
Máscaras disfarçam a falsa dor e a falsa alegria
Tudo quanto exala é nada e a verdade fala
A verdade grita nas profundezas do silêncio
Pisam açoitam decaem sombreiam o dia
Nas difusas messes perjuram inconsciências
Celebram saltando no abismo da demência
Toda a sua decisão pelo desastrado crime
Abissal a corte os aguarda rondando como
Cão raivoso que os degreda e fere e corta
Degradante seol afastem-se logo de si mesmos
Porque já não vos pertence o ouro que
Ontem brilhava iludia corpos vendidos
Almas perdidas nunca mais horizontes
Não se espante há aos olhares tolos
Luxo de areia castelo que bruxuleia
Nas areias que voam ao vento
Nos momentos que vão com o tempo
As areias movediças finalmente engolem
Degolados insignificantes insignificados
Rumo ao destino siga então decida
Não se apresse não decida agora
Qual é seu preço? Diga seu preço, agora
Derrame sua frágil maldade sem alarde
Torture-se pois defronte ao espelho
Mais tarde mas é tarde quem sabe
Um dia dobre - ou não - seus joelhos
Ridícula sua alma em inanição
Sepulcral afinal seu ato final
Assine com louvor sua derrota
Sua pena - testemunha de um erro sem volta
Revolta.

Dura Lex Sed Lex. Será mesmo?
Renata Rothstein

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Ser poeta...





O que é afinal um poeta além de um ser que decifra enigmas
Misteriosas  imagens canções luares amores e saudades
Sons métricas rimas e muitas confusões, alguém que apenas
Reflete segue sonha espera divaga sente. Sente muito... e chora?
E ri uma esquizofrenia sã e controlada manipulando mãos e idéias
Papéis reflexões desatenções misérias felicidades e somos
Aplausos e pedradas safanões e bordoadas carícias vida afora
Escrevo sobre a vida, vidas sonhadas vividas sempre vívidas
Dentro de mim um pouco de tudo aquilo que sei ou imagino
Aquilo que certamente conhecerei, aquilo que não será nunca
Nada além dos sonhos meus ou pesadelos de qualquer um
Escrevo sobre alegrias que vivi e sobre dores que não senti
Minhas palavras são explícitas atrevidas vagam na minha mente
Como quem fala verdades e como quem às vezes mente
Falo sobre o cálido e o gélido sobre a dor e o amor
Encontros e despedidas chegadas e tantas partidas
Nem sempre o mais puro retrato da grande verdade
Mas sempre  fragmentos da vida - incansavelmente
Tímida febril ardente despudorada insana maravilhosa
Vida


Renata Rothstein

Choro

Tão longe agora
E é só o choro
Lá fora e caso não fora
A hora correria agora
Ao seu encontro
Perdida nos becos
Da minha pobre própria
História insana memória
E se demora tanto
Demora demole tolhe
Meu corpo esfacelando
Tudo além da medida
Sem você aqui
Sou tão somente
Lembrança de algo
Passado distante
Tudo de repente
Você vai e leva
Meu tudo, assim
Procuro nas estradas
Algo que possuo
E por qualquer despropósito
Perdeu-se de mim
Do meu domínio
Percebo no febril agito
Ser tarde – será mesmo?
Muito tarde agora
Aqui, enquanto agonizo
Árvores continuam florindo
Lá fora
Há ainda entes sorrindo
Porém aqui nesta sala
Há só um ser
Um corpo que fala
Sorri e comemora
Um corpo sem alma
Uma alma que conformada
Simplesmente aguarda e chora.


Renata Rothstein

Distâncias

Levante-se e siga
Não será daqui a qualquer tempo
Mais do que (mais um) retrato empoeirado
Na estante baú dos meus instantes
Sei que sou louco
Talvez  pouco para dizer
E sei sou fraco o suficiente para sucumbir
E forte o bastante para superar um fim
O fim
Siga vamos levante-se não vacile
Agora veja há luz lá fora
Torne mais fácil menos irritante este
Todo já pretérito perfeito
Distante
E dispa-se de mim de uma vez
Da mesma forma que dia após dia
Eu vestia você de vez dentro de mim
Como cenas de um execrável folhetim
Recorra escorra nos sentidos perdidos
Toda e qualquer folha guardada
Sua caixinha de jóias bijouterias
Mesquinharias que já não valem nada
Ainda sou eu o mesmo e é o que temo
Serei ainda aquele que teimo
Meu próprio não olhar insiste em procurar
Você num vão qualquer dentro de você
Ou de mim tão longe e tão perto
Desperto não há solução decerto
Sangro minhas mãos e rasgo tudo
Tudo que faça lembrar então vá!
Suma assuma risque em mim sua visão
Porque dentro de mim é você a eterna razão
Nem sempre finais são felizes
Muitas vezes não temos finais
Contento-me apenas com os poucos sinais
E tento e prossigo e esqueço um pouco do dia
Mais uma e conto nos dedos histórias
As histórias que tenho para guardar
Dia lindo vazio maravilhoso e inútil
Um dia...nada além de um dia
Em que resolvi te amar.


Renata Rothstein

Despertar no Exílio

Disfarço meu caminhar cheio de segredos
E avante sigo piso cada palmo imenso degredo
Indômita persigo meu auto exílio enquanto
Aguardo heróico auxílio desisto de fugir já
Mundos paralelos pesadelos desproporcionais
Difusos órgãos de idolatria mística a hipocrisia
Desaproximando atos inaptos os anti-finais
Quando  mais concorridas são burlescas figuras
Desencantando a antífona toda malsã alheia
Mérito ao guerreiro e à sua invisível capa
Dentro da queda da demolidora guarda
Traga e mantenha consigo a chama guardiã
Celebre antes de futuro novamente
Viva esse passado que insiste em se manter
Presente e somente na presença dos deuses
Armam-se vinganças pactos esperanças
Vão é perfilar-se esperar do sumo sacerdote
Qualquer indelével favorável decisão – que virá
Forjo então na estopa meu traje cerimonial
Antes que tenha início cicatrizemos as ilusões
Ritual e coragem e pavor e passagem
A massa tribal habitante tão daqui mesmo
Executa o canto único e definitivo claustrofóbico
No espanto implanta-se a histérica soberania
Eu convencida pois da minha invencibilidade
Reúno meus tesouros ciganos deixo cair o pano
Demoradamente avalio cada infindável segundo
Sinto que já não sobrevivo ou ao menos se o que
Penso ser um grito perdido fica longe menos aflito
Dono do espaço infinito pressinto a proximidade
Justo na lágrima que insiste em vergonhosamente
Cair e trazer e levar consigo o erro e voltar atrás
Lá reside a imensa força de toda fragilidade
Respiro vislumbro na aurora caminhos que
Não obstante toda a dor de cabeça erguida eu percorria
Sorrio. ‘Audi nos’ avança para mim a turba
Tempo testemunha sempre muito tão confiável
Ainda de pé não me prostro o único terrível claustro
É então minha própria talvez falível égide mente
Somente confio rezo aguardo pelo despertar
Acordo criança para reencontrar o começo
Recomeçando o que virá do ilusório fim
Ansiosa espero interdimensionais decisões
Explosões tratados combates – a calmaria
Inúmeros descaminhos, dentro de mim.




Renata Rothstein

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Doce terra da Magia (Infantil)

Meu sonho é viver
Lá na terra da magia
É tudo o que a gente quer
Na linda terra da magia
Dia é noite e a noite é dia


Lá o sol nasce com a lua
E os dois passeiam sorrindo
Brincam os dois amiguinhos
No imenso carrossel encantado
Da doce terra da magia


Mágicos e sorrisos
E flores e palhaços
Lá voamos de verdade
Somos donos do espaço
E as conversas são melodias


Fazemos cordões de estrelas
Não existe noite nem dia
Sempre visito essa terra
Quando fecho os meus olhinhos
Sempre diz a mamãezinha


Já e hora do soninho... boa noite, meu Anjinho
Sorrindo e feliz eu adormeço
E visito o país dos meus sonhos
Lá é lindo todo dia e o dia é de folia!

Doce terra da magia

Onde o dia às vezes é noite
E a noite também é dia!
Linda terra da magia... mas é hora
E a noite se transforma em dia

Até mais tarde então, doce terra da magia...


Renata Rothstein

Lá vem a Ventania

E lá vem a ventania
Ventando como ela quer
De onde veio não sei
Sussurrou que lá de longe...
Será que do pólo norte?
Sei lá eu onde isso fica!
Veio assim não sei de onde
E carrega gente bem forte
Danada de ventania
Carrega o que ela quiser
Carrega caminhão carrega barco
Carrega até vaca e o que vier
Ventinho tão ágil e ligeiro
Ele às vezes carrega mulher
Mulher braba e encrenqueira
Que o sujeito já ‘num’ quer
Danado de vento bravo
Já vem fazendo favor
Está já a Serafina livre
De todo e qualquer perigo
Saiu voando no vento
O chato do Bastos seu marido
Vento sem tempo e idade
Leva embora o chapéu do doutor
Acaba com a vaidade
E essa agora distinto amigo
O danado já derrubou
Segura a saia dona Maria
Que o vento já arribou
Sua saia levantada
Acredite no que lhe digo
Só não viu foi quem não olhou
Mas concorde comigo amigo
O mesmo vento que destrói
É o mesmo que traz as “flor”!
O mundo girando ao relento
Eu só por só querer ser só
Girando e girando com o vento
Mundo lento mundo lento
Ligeiro vento ligeiro mesmo
É o vento ventando verdade
Durando apenas um momento
Venha de onde vier
Sopre por onde quiser
Só não diga que vai embora
Sem que eu diga o que é que é!
Lentos somos nós no mundo
Porém linda a vida é
E nisso é que acredito
E por isso eu sigo cantando
O vento vai assobiando e
Só não canta quem não quer
Eu canto acompanhando o vento
Não desisto insisto tento
Tenho a minha galhardia
Portanto já estou na estrada
Assim que clareia o dia
Me leva p’ra onde vai
Me leva pra onde quer
E sigo com a ventania
A vida é a montaria
E eu sigo é com a minha fé!



Renata Rothstein

Preâmbulos

Sótãos empoeirados fogueiras desapegos inversões –eu
Imploro deploro exploro mundos ocultos em mim
E tremo agito grito o que nunca provavelmente será ouvido
E engendro cifras para tudo o que não ousarei dividir
E ensino sabendo que jamais será entendido e insisto
Possuir prazeres desenganando a dor- um insulto ao gozo
O não partir sou eu a partida presente personificada
Quando em toda chegada não encontro repouso nem a paz desejada
Nem mesmo a guerrilha que estraçalha faz-se mortalha em mim
Sou só e sou só eu e nada mais sou tão longe que me perco
De tudo e perto do que não há ressurjo e imploro urgência
Aos fantasmagóricos vultos que caso encontrem devolvam minha fantasia
Da vida que há muito vive perdida tolero ainda a ilógica cortesia
Desate do certo tão pleno os desencontros e as despedidas
A já tão familiar incandescente insanidade no escuro tateia
Muito além do meu moribundo pleno palco de lógicas
Corações espelhos despejos almas partidas desejos
E eu violento esparjo meu frágil indestrutível aço
Abraço a benção a todo custo casto ato fabrico devasto recrio
Inflamo bruxarias de aluguel em busca de julgamento na lua antes cheia
Arder nas fogueiras vidas inteiras e  finalmente jazer – em paz?
Sendo então incapaz de não ser planejo minha retirada
Nos precipícios vândalos anjos ambicionam por riquezas
Ardilosamente perambulam na miragem oásis em apneicas rebeliões
Horizonte além os ecos de um alaúde cordas virginais e recordações
Recorro recordo reencontro rumos remoendo rumores
Quando o todo é tão profundo transborda significado
Aguardo tranquila a chegada absurda do futuro que já se foi
Nos cofres travesseiros de pensamentos agonizantes aguardam
Preâmbulos são estranhamente o fim e é de onde sempre vem
Inexoravelmente o eterno recomeço valiosos templos
Tempestades raios trovões lavam e levam o que ficou
Eu parto me afasto vou sempre embora e ainda assim – misteriosamente
Permaneço.



Renata Rothstein

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sacrifícios

Espectro de outro instante estabeleço esqueço o que sou
Inflamo na vertigem voraz aqui o relâmpago fugaz é só
Brilho e som explodem todas as desconstruções que refiz
E como condiz atrai o louco o pouco pecado pisado indolente
Pedinte espelho conselho embaçado ora reticente passado recente


Meu presente implora por esmeros entre os erros os acertos
Acerto no cerne o espasmo do lampejo de pergaminhos
De felicidade que aflita escoa por uma fresta e sufoca
E esgota toda chance de apreço para todo fim há um preço
Para toda causa perdida haverá nem sempre o recomeço


Meço e despeço no espaço o sátiro que liberto do laço
Colhe as flores da agonia esplêndida visão e é tanta
Antagonia a beleza perene nas coisas não vistas
A tristeza sentida naquilo que não vaga e não há
Simetricamente o oposto vale-se ganha sendo somente


O teatro arcaico não estranhamente é louvado
Tanta penúria luxúria lamúria pecado e libertação
As apocalípticas trombetas aplaudem de pé e é fim do ato
Desato fixo no tato expande-se o pior combate me teste
Luz e escuridão das trevas a imensidão avança e prossigo


Sequestradas as últimas esperanças ardem no febril agito
Infelizmente permanece a desigualdade e ainda
Assim reflito existe céu azul no amanhã que finda
Existe crime imaculado doída miséria sem castigo
No horizonte inércias agitam bandeiras recordações


Covardes gris aberrações sem valor dolorosa cor
Sacrifícios ...

Renata Rothstein

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Pedido ao Vento (Guilhotinas)




Grito. Tremulantes pedidos inaudíveis de socorro
Percorro corro febrilmente tateio em vão o inerte
Vazio o solo vazia a sala vagueia a vã solidão
E tenta intenta escapar por entre as paredes
Cárceres masmorras arenosos labirintos
Luto no anseio vão e luto na solidão enlutado
Guilhotinados sonhos joguetes do destino
Movem-se as pás e posso jurar não há nada
Mas o vento sussurra e as pás declinam
Voltam atrás suspiro não desisto e no pouco
Tanto que o espanto permite a qualquer um
Cálices cheios esvaziam-se furiosamente e é triste
Acatar que o rio siga caudalosamente e me arraste
Dentro da noite imaginária velórios dementes pense!
Agite açoite abomine assine aceitando acolha e escolha
E siga e acerte e erre e decida impiedosamente
O que é certo ou errado nada é tudo imaginação
Silencie somente sinta saudade a saudade sentirá
Você em toda sua extensão entre o barqueiro espera
Sorvo cada segundo da sagrada derradeira semi esperança
Travessias intermináveis célere a madrugada envelhece
É dia e ainda acordo e concordo e continuo a jornada
Vem o socorro inaudível invisível observo sereno a redenção
Saber incompreensível torna perene e tangível o sonho
Sádica é a santidade quando sã é a devassidão




Renata Rothstein

Observando...

Observando.
E só observando consigo aprender e apreender algo que possa guardar na estante da minha antiga, obstinada e sofrida alma.
Tempos difíceis. Mundo esquisito, lotado de gente manipuladora travestida de boazinha, gente medíocre criando coisas para as quais deveria ter dado descarga mental assim que pensou, gente que vai atrás do primeiro miserável que anuncia que sabe como e de onde virá a salvação.
Fora os recalcados e os extremamente atribulados que insistem em parecer felizes o tempo todo, buscando desesperadamente acreditar nas próprias mentiras que inventaram para sobreviver, sem viver, verdadeiramente.
Tudo tão fake, tudo tão ali, superficial e passageiro. Rasteiro retrato do nada.
Tempo de falsos profetas aproveitadores da vaidade, da solidão e da alienação coletiva.
Observando. E fazendo cara de paisagem só para disfarçar a espada embaixo da roupa.
Eu sempre hei de usar a minha espada invisível, se preciso for e olvidando qualquer tipo de medo, coisa que aliás, desconheço.
O medo possui o "não dom" de limitar, é justamente o medo de tudo que acaba transformando pessoas em trapos andantes ridiculamente disfarçados de pavões.
Cada um querendo ser mais que o outro, cada um apontando a diferença do outro, como se a diferença defeito fosse, esquecendo que justamente na diferença é que vemos o quanto somos iguais: simplesmente seres humanos ávidos por respeito.
Enxergar além das aparências, ir além do que nossos pobres sentidos podem nos apresentar, é tão importante, e, ao mesmo tempo, tão raro. Tão caro e carente de polimento os lamentos insuspeitos dos imperfeitos descaminhos que trilhamos.
A distância entre o fim e o princípio é o agora.
Agora podemos tudo, dentro de um tudo tão incrivelmente vasto, que negar a si mesmo a possibilidade de ir além é, no mínimo, definir que “esse metro quadrado aqui 'tá' muitooo bom”.
Dizer que está feliz, quando na verdade não está, pra mim, é loucura.
Há os que esperam ser feliz daqui a pouco.
Daqui a pouco é tão longe, daqui a pouco o tudo e o nada podem estar juntos e eu quero estar com eles e acima deles, bailando a dança dos deuses, porque daqui há pouco para se aproveitar.
Esquecer as ofensas é um dos mais sábios conselhos...deveria ser Lei.
Caminhar lembrando das ofensas é seguir carregando pedras e todo mundo sabe que jamais construirá um castelo, porque ao final da jornada o peso das pedras esmagará qualquer coração que ainda guardava um pouco de sangue correndo e fluindo vida, energia e luz para algum motivo bem mais digno de glória.
Eu que não me engano, eu que não cedo aos enganos!
Por enquanto eu vou, um passo depois do outro, cuidando só para não dar um passo maior que a perna, e apesar dos pesares, que são muitos, eu acredito que um dia eu vou chegar lá.
Chegar. Lá.
Como e aonde? Não sei.
Só sei que existe um motivo que é desdobrado em mil motivos para eu estar, ser e continuar por aqui.
Sem máscaras, sem fantasias, sem muitas agonias, sem pseudo felizes alegorias, sorrindo e chorando, conforme manda o coração.
Neste exato instante, ser impiedosa com a maldade é provar a ela que embora muitas sejam as provações, aqui dentro ainda resiste, insiste e bate um descompassado e corajoso coração.



Renata Rothstein

02 de Fevereiro


Ontem, dia 02 de fevereiro, resolvi que tinha que ir a praia, rezar e tals. Não, não levei oferendas.
Pensei: humm,  para onde vou, assim, né, rapidinho?! La respuesta: "Esbarra em Guaratiba".
Decido. Não vou. Ah, vou sim, o dia tá lindo! Mas não vou...e acabei indo!
E fui. Já no caminho indícios do que me esperava. Muita gente, muita frô, muito calor, muita gente sem educação junto, coisa que não podia dar certo mesmo.
Aí, chego ao local, salto em frente ao mar cheia de reverência, me concentro e escuto... o que? Iemanjá cantando? Não!
Um maldito funk: Minha vó tá maluca, minha vó tá maluca, tanta coisa pra comprar, foi comprar uma peruca! Tentei levar em consideração, vai que aquela fosse a voz de Deus falando comigo.
Mas nem avó sou, por que Ele falaria justo aquilo comigo?....vai que!
Sigo meu caminho me desviando de isopor, latinha de cerveja, pneu de caminhão, despacho e vários Creysson, Jennifers, Tiffanys e Uostons...pedindo clemência e que tudo desse certo, tudo vai dar certo, meus pés queimando, areia fervilhando, saí pulando, uma coisa meio "O labirinto do Fauno", pulei, pulei, encontrei 2437 católicos praticantes de macumba, moradores daqui mesmo, exercendo o que nosso estado laico nos permite e nosso estado hipócrita não permite admitirmos que curtimos (momento feissibuqui).
Sento numa cadeira de praia meio gosmenta ( não sei de que, aluguei por lá....argh) e depois de me besuntar com filtro solar 60, porque os raios estão cada vez mais ultra violentos, olho a natureza, o mar, o céu e a temperatura: 45 graus!
Deus que me perdoe! Sabe quando a gente pensa: o que é que eu tô fazendo aqui?
Pois é.
Mas sou brasileira e não desisto nunca. Burra teimosa.
Olho pro lado e um casal num beijo perereca vem, perereca vai, dois jovens pombinhos que certamente escaparam do Egito quando Moisés abriu o Mar Vermelho.
Aí respirei fundo e pensei: o mar! Ele vai levar embora essa catinga, vai lavar essa alma, vai me descarregar,  abrir os caminhos, enfim, sinceramente, pensei: vai aliviar o calor.
Dando um duplo twist carpado com um mortal e vários pulinhos ao som de ui, ui, tá quente, tá quente, chego na água e quase posso jurar que ouvi um barulhinho de coisa quente quando cai na água: xx sssssssssssii.......
Foi aí que eu descobri o que é desilusão: a água estava boa!
Só que boa pra colocar aquelas latinhas das cervas dos "pessoal" do “minha vó tá maluca”.
Geladééérrimaaaaaaaaaa....me concentrei no objetivo, desistir é para os fracos (oi?), fiz a minha reza braba (rsrs) e lembrei que para dar certo mesmo teria que mergulhar.
Depois de breves 38 minutinhos de adaptação ao meio gélido em que me encontrava, consegui afundar a cabeça, sim, afundar, porque mergulhar não seria palavra apropriada e foi aí que senti o lado direito do rosto dormente.
P...* que p....u! pensei. Pronto, agora tive um derrame, me estrepei de vez, senti tonturas, náuseas, pânico, olhei pro lado e o mesmo casal se agarrando agora dentro d'água, no mesmo ritmo (ou falta de), lembrei do bebê de Rosemary, não sei por quê.
Respirei fundo, tossi, pensei no motivo de estarmos aqui...melhorei.
Sei lá, fiquei bem, foi só stress mesmo. Distúrbio neurovegetativo.
Fricote, acho.
Voltei pra areia com a alma bem mais leve, é verdade, dizem que o que arde cura....meus pés ardiam, queimados, resfriados, queimados novamente, flambados, tratamento de choque!
Como se pé de bailarina fosse algum mimo...enfim!
Refaço meu caminho de volta. Dá licença? E é Uoston, Jennifer, Uelito e  eles tudo lá, repetindo freneticamente: "ai, se eu te pego! ai, ai se eu te pego!".
Consigo fugir da turba e  agora chego no lugar mais quente do RJ.
Não, não moro em Bangu (minha cruz não é pra tanto, aff) – lugar feio, me perdoe quem mora mal, digo, lá.
E encaro mais essa incrível experiência de minha vida como uma baita idiotice da minha parte.
É, mais uma!
Para quem não conhece, "Esbarra em Guaratiba" é um lugar lindo, com pessoas assim, digamos, pimbas avec decadence, non sense geral, mas muito lindo. É.
E onde todo mundo se esbarra!
De verdade. Eu amo Barra de Guaratiba.
Precisava desabafar...o caminho nunca é fácil, mas nós sempre podemos dificultá-lo hehehehe.
Veio agora uma coisa, uma espécie de crise existencial, sei lá!
Vou virar pastora, que nem a doida, todo mundo sabe quem.
Pensando bem, não vou.
Vou não, quero não, posso não...
Se der, fim de semana tô lá de novo!!



Renata Rothstein