segunda-feira, 28 de maio de 2012

Almas Embalsamadas




Silêncios cicios sorrateiros cios soluços
Almas embalsamadas belas malas nas mãos
Afagam o sol angélicas mãos ceifam qualquer
Delituoso desnecessário porvir - desassombro
Nos desvãos do abismo a incerteza do nada
Ser tudo e dúvidas caem da tarde fria
Arde gelidamente a partida – vazia
Dos pretéritos imperfeitos jazigos a turva transgressão
Cálida a prece e delicadamente estranho o dano
Desato choros calo gritos esforço grandezas
Torpes desatinos que ocultem a tristeza
Eu não aguardo trancada num canto qualquer
Empoeirado trancado guardando qual santa - insana
Tesouros banais e trapos ímpares inimitáveis
Disparidades irrecuperáveis singro impeço eternidades
Sangram minhas mãos enterneço impiedades
Ergo do caos qualquer lucidez enlouqueço
Traço nos destroços céus imaginários
Infinitos fim e começo - reconheço
Dos meus tropeços acerto os descaminhos 
E torno irreal o sonho que, decerto, não mais o será
Um dia.


Renata Rothstein

terça-feira, 22 de maio de 2012

O Canto dos Anjos Psicodélicos





Pólens impolutos pululam pérolas perdidas
Escadas galácticas invertidas intermináveis
Espaços passos no escuro medo o nada existe
Jogos de espelhos revejo o futuro do ontem
Inexato inexorável incipiente intransigência
Lá fora em algum inimaginado lugar luzes vagueiam
Dão lugar ao serpenteante ardil de solidões acompanhadas
Nos hospícios da vida trepidantes turbas mesclam-se a nós - e os nós
Cresce a trama inconteste dos dementes contrariados atados
Nulos e incertos acertos e erros anulo a minha incerteza
Deliro hostes desconcertadas de anjos psicodélicos
Espaços naves tempos cantos bélicos desestimulantes
Campos estranhamente floridos caminho e é você
Dentro de um outro eu verdadeiro - meu
Particípio de um novo princípio velado o antigo fim
Cremadas as glórias malsãs acordam novas manhãs
Áridos contratempos religam tão estranhamente
Quanto momentaneamente o impossível
Apressa o passo passa perece na prece prossegue
Chuvas chovem choram os rios na cheia obstinados
Insistem os rios correm transbordam engravidam a terra
Solitária.



Renata Rothstein

domingo, 13 de maio de 2012

Casas de Vidro


E eu...eu preciso tanto reviver
E só às vezes, não lembrar que esquecer
É só a face da perversa falsa indiferença
Diferente e que, ao acontecer, é breve
E a dor traz a paz fugaz tal dia que anoitece
Lágrimas enxutas e eu, radiante qual crente numa prece
Sem pressa nos campos da passageira eternidade
Sussurro minhas doces ásperas palavras ao vento
Em língua que jamais existiu
Sentindo jorrar paulatinamente a força
Sem ti - somando comigo meu abrigo
A mesma fé que, definitivamente, não tenho
Contudo vejo crescer incandescente e
Em mim o mar se afoga dialoga
Segredos há muito escondidos prossigo
A transparente nau de dóceis anseios
Aguarda o instante místico da estratégica retirada
O céu e o mar se fundem no azul de pureza maculada
Enleio elevo elejo elucidações e espargem
As lições desencontradas contadas por lendas
Fendas feridas forjadas fagulhas e felicidades
Cidades construídas em vidro - envidraçadas
Porém embaçadas - algo entre o tudo e o nada
Este que logo torna-se tudo engole o que agora é nada
Como conhecer o caminho ou a luz no fim de um túnel
Somente a loucura desafiadora presa nalguma masmorra
Ilusões... a antiga luz no fim de um misterioso túnel
E sequer chegamos à ponte e ainda não entendemos a fonte
Floresço renasço faço pactos parto antes do fim
Nas manhãs transparentes apenas a voz do vento
Um lamento exito apenas um momento
Minha alma cigana não se engana não cede
Sigo assim a andar meu sem rumo indolente
E assim finjo acreditar que caminho contente
Realejos e cartomantes e magos e sacerdotisas
Espelhos e a loucura e meu tanto nada
Continuo a lavra vã entorpecida
Não, não desisto insisto velada a lida
Encaro, pés descalços, minha ladeira
E a eterna  subida há vida
A vida.


Renata Rothstein

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Embriaguez em Netuno

                                     

Leio tateio no tempo tanto e perdido que ficou
Ao relento no movimento incansável insaciável
Serena e abissal preocupante calmaria e intento
Dedilhar vidas e violinos e noites e dias
Infindos hialinos símbolos dores e similares
Singulares frias consolações indignas de gozo
Nos muros dos caminhos de Netuno que não andei
Testemunhos assinalam erros exalam compaixão
Verdades mentiras meias verdades quem sabe
Talvez outra vez da paixão a embriaguez
Desencontrando desconstruções derramo
Meu tanto pranto já não há espanto ou encanto
Em cada canto de alma esconderijo e melodia
Andam juntos solfejam luz na pele macia
E é de novo a dor e a gula que não cicatriza
São os dias as noites os violinos as vidas dedilho
A delirante lucidez profana de um pálido reencontrar
E a santa loucura sã de uma eterna partida.

 
Renata Rothstein

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Amanhã será tudo igual...



E amanhã será tudo tão igual
O hoje o amanhã
Indiferença, afinal
Penumbras e claridades

Trôpega levito extenuada despida de mim
Sigo o desconhecido áspero caminho de volta 
Meu leme destruído meu lema não proferido e eu
Preferiria gritar o delirante saber do não se saber e evitar

Ante a multidão afoita a fonte da ironia míticos aforismos
Intermediários do mesmo princípio enregelada concessão
A súbita retomada de um capítulo fragilmente terminado
Detalhes subliminares atraem olhares trazem nas mãos

Trêmulas o holocausto casto e covardemente recusado
Pelos soberbos representantes ausentes no julgamento
Litígios e conluios e bradam adversárias transparências
E sou a louca a primeira e a última pessoa vergando espanto

Sendo muitas vezes nada de mim e assim muito mais
Tudo o todo o tolo todo o labirinto e a asfixia e sinto
Pressinto as distâncias e tudo é incerto e longe e tão perto
Tropeço. Meço meus sonhos quebro os grilhões me apresso

Dentro do inatingível a celebração do invisível é doce
E intolerante com os que buscam a cômoda inércia
Incinero obviedades sádicas dispo néscias suposições
Malas da vida prontas portões chegadas e despedidas

Tudo hoje é diferente
A indiferença, o final
A luminosidade e eu
Tudo que não quero. E o breu.

 
Renata Rothstein

Noite rara




Noite clara lua rara
Sortilégios e devassidão
Velas bruxuleantes e antes
Vício. Vivo um sonho cambaleante
Fugidio vívido qual cadente estrela
Pesadelo disfarçado de anjo brilhante
Fogos comemorações anunciam vilão e amante
Tocante dissipar do antídoto antigo ato
Desato desacato desvalido a desilusão
A lua é clara a noite enluarada tão rara
Cara a concessão das dores que um dia
Foram e hoje não passam somente
De incolores insípidos imolados amores
Hoje tão distantes que diria rumores
E eu quero -confesso - tão pouco
Tampouco divinizo o lancinante anseio
Revivo a sobriedade nos sótãos hipócritas
A santidade verdadeira é apenas metade
Do meu próprio pesar descreio
Meu grito rouco desafiante transgride
Resiste ante a anti-propriedade
Anelo fictícios laços retratos da fragilidade
Cristais exaustivamente mal disfarçados
No aço eu, o louco, encontro algum abrigo
Visível o rascunho do mapa da saudade
Outra vez o embriagante vinho do esquecimento
Sobrevivo reconheço no espelho dentro de mim
Noite rara enluarada tão clara
Caminho. Desfaço o anseio
E somente assim
Ainda serei eu, se assim for
Antes do fim.

Renata Rothstein