quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Velhas esquinas


É tudo tão só solidão vagueio pelas esquinas caiadas
Inventadas em minh'alma debruço nos desfiladeiros
Corpo inteiro cilada voraz hoje nada resta e tanto faz
Os assoalhos tingidos de vermelho trepidam piso e longe
Ao largo um gemido um não grito um quase lamento
Cântaros de preciosas futilidades e o protesto dos algozes
São eles os contras nos prós das ofensas e das elegias
Hoje o medíocre vazio perambula seu sorriso frouxo
A presunção do infinito escarnece, pois, do próprio medo
Apreço e desassossego desvario nos céus da áspera saudade
Quando o que já foi é tudo que ainda arde e é tão tarde
Espero o caminho insano um fim começando ao meio
Sem ao menos quase tanto dizer a que veio serpenteiam
Nos espelhos a implacável realidade as velhas esquinas
Sombrios tempos momentos sofrimentos que nunca existiram
Longe da sanidade recorro ao ópio da sóbria ilusória verdade
Ergo meu corpo minha voz pode não ser afinal tão tarde
E – ainda que haja um fim - aquele mesmo terminado pelo meio
Resquícios – volto ao início ao meu descaminho desinventado
O que sei o que foi o que virá apenas se ainda sou – já não sei
E não importa entendo tragada pelo abismo atônita resisto
Ainda uma vez mais afastada de mim mares delineam os espectrais
Horizontes sem fim sótãos porões e as inatingíveis torres de marfim
Calada decido ante o espelho sou só e o que vejo avança pelas horas
Horas que não se contam só o pranto derradeiro infiel companheiro
E na esquálida lua o canto do agradecimento recrudesce insistente
Resta pelos cantos das esquinas destruídas uma lágrima mágica
E cínica de arrependimento diluída na toda solidão a dolorosa presença
Ausente a multidão em mim freme esgotam-se as não possibilidades
Em minhas frágeis ambiciosas mãos o meu mundo meu leme
Ressurge a esquina inventada caiada apenas mais um caminho
E milagre reconheço em mim agora somente o que sempre fui 
Eu. E somente eu.


Renata Affonso

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