domingo, 18 de março de 2012

Passageira de mim

Ouvir no silêncio o impossível
Retorno das mesmas ondas
Em tão diferentes mares
Irrepreensível
Imaginados incriados insólitos
Insana é a lida e tudo é tão, tão só
E tudo é tão bonito e sei, nada engana
Passageira de mim flutuo e sigo
No anzol da vida a situação extrema
Tão incerto e belo e puro - tão crível
Incrível é crer na balada devastadora
Balada barata beligerante barganha
Canto glorioso de uma derrotada solidão
Navios piratas que, indesejáveis
Chegam diuturnamente ao cais
Meu cais esconderijo tão fugaz
Passageiro ilusório contudo necessário
Devaneios do sonho perjurado
Não torne, pois, a sonhar jamais
Abrace o resto de realidade
Mantenha intacta a dignidade
Aviste do cais da saudade
Estrelas cadentes presentes
Tão desejáveis embora decadentes
Latejam febrilmente o absurdo
Do que não diz adeus, segue, em frente
E é tão incansável e premente o apelo
Perfusão de sentimento crescente e zelo
Dolorosa disjunção desatino do destino
Permaneça o sentido permaneceremos sentindo
Tudo aquilo e creio ter sido qualquer delírio
Algo que nunca esteve e já ficou para trás
Então se assim é e se assim pode parecer
Deixe seguir procure esquecer abra a cortina
Abstraia traia atraia o trago pérfido e derradeiro
Minutos dias meses anos infinitos inteiros
Somente para acompanhar definitivamente
O Sol e só, e só assim entender que - mistério
Quase sempre no início compreende-se - enfim
O inexistente fim.


Renata Rothstein

Um comentário:

  1. É este canto intenso e sibilante de ritmo que concede à dialética devastadora dos seus versos, a majestade única da Poesia Maior!

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