domingo, 5 de fevereiro de 2012

Observando...

Observando.
E só observando consigo aprender e apreender algo que possa guardar na estante da minha antiga, obstinada e sofrida alma.
Tempos difíceis. Mundo esquisito, lotado de gente manipuladora travestida de boazinha, gente medíocre criando coisas para as quais deveria ter dado descarga mental assim que pensou, gente que vai atrás do primeiro miserável que anuncia que sabe como e de onde virá a salvação.
Fora os recalcados e os extremamente atribulados que insistem em parecer felizes o tempo todo, buscando desesperadamente acreditar nas próprias mentiras que inventaram para sobreviver, sem viver, verdadeiramente.
Tudo tão fake, tudo tão ali, superficial e passageiro. Rasteiro retrato do nada.
Tempo de falsos profetas aproveitadores da vaidade, da solidão e da alienação coletiva.
Observando. E fazendo cara de paisagem só para disfarçar a espada embaixo da roupa.
Eu sempre hei de usar a minha espada invisível, se preciso for e olvidando qualquer tipo de medo, coisa que aliás, desconheço.
O medo possui o "não dom" de limitar, é justamente o medo de tudo que acaba transformando pessoas em trapos andantes ridiculamente disfarçados de pavões.
Cada um querendo ser mais que o outro, cada um apontando a diferença do outro, como se a diferença defeito fosse, esquecendo que justamente na diferença é que vemos o quanto somos iguais: simplesmente seres humanos ávidos por respeito.
Enxergar além das aparências, ir além do que nossos pobres sentidos podem nos apresentar, é tão importante, e, ao mesmo tempo, tão raro. Tão caro e carente de polimento os lamentos insuspeitos dos imperfeitos descaminhos que trilhamos.
A distância entre o fim e o princípio é o agora.
Agora podemos tudo, dentro de um tudo tão incrivelmente vasto, que negar a si mesmo a possibilidade de ir além é, no mínimo, definir que “esse metro quadrado aqui 'tá' muitooo bom”.
Dizer que está feliz, quando na verdade não está, pra mim, é loucura.
Há os que esperam ser feliz daqui a pouco.
Daqui a pouco é tão longe, daqui a pouco o tudo e o nada podem estar juntos e eu quero estar com eles e acima deles, bailando a dança dos deuses, porque daqui há pouco para se aproveitar.
Esquecer as ofensas é um dos mais sábios conselhos...deveria ser Lei.
Caminhar lembrando das ofensas é seguir carregando pedras e todo mundo sabe que jamais construirá um castelo, porque ao final da jornada o peso das pedras esmagará qualquer coração que ainda guardava um pouco de sangue correndo e fluindo vida, energia e luz para algum motivo bem mais digno de glória.
Eu que não me engano, eu que não cedo aos enganos!
Por enquanto eu vou, um passo depois do outro, cuidando só para não dar um passo maior que a perna, e apesar dos pesares, que são muitos, eu acredito que um dia eu vou chegar lá.
Chegar. Lá.
Como e aonde? Não sei.
Só sei que existe um motivo que é desdobrado em mil motivos para eu estar, ser e continuar por aqui.
Sem máscaras, sem fantasias, sem muitas agonias, sem pseudo felizes alegorias, sorrindo e chorando, conforme manda o coração.
Neste exato instante, ser impiedosa com a maldade é provar a ela que embora muitas sejam as provações, aqui dentro ainda resiste, insiste e bate um descompassado e corajoso coração.



Renata Rothstein

Um comentário:

  1. Todo Grande Poeta domina a Prosa, afinal, Poesia é toda grande Linguagem (na concepção autorizada de Tristão de Athayde). No caso em tela, a Imensa Poesia desta Autora, é a Voz Guerreira que investe contra o mediocrío dos falsos e dos hipócritas, com Genial Visão da Realidade, e do que deveríamos ser!

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